Ginecologista da Unimed Araxá responde as principais dúvidas das mulheres
A Insuficiência Ovariana Prematura (IOP) é uma alteração decorrente da perda da atividade ovariana antes dos 40 anos. Caracteriza-se por menstruações irregulares com ciclos longos ou ausentes associadas à redução da capacidade ovariana de produzir esteróides sexuais. Em entrevista, a médica ginecologista e obstetra, Luisa Ganime explica as causas, como é feito o diagnóstico e o tratamento.
Confira:
IOP é a popular menopausa precoce?
O termo Insuficiência Ovariana Prematura não é mesmo utilizado de forma universal. A condição já foi nomeada “menopausa precoce” ou “falência ovariana precoce” ou ainda “falência ovariana prematura”, mas sabe-se que a afecção pode ter evolução longa e variável, com ovulação irregular e imprevisível em 50% dos casos e gravidez em até 5% a 10%. A prevalência de IOP aos 35 anos é 0,5% e, aos 40 anos, aproximadamente 1%. A frequência parece variar com a etnia, sendo mais frequente em mulheres de origem hispânica e afroamericanas e menos em japonesas. A maioria dos casos de IOP é considerada idiopática, ou seja, não tem causa determinada, no entanto, é importante investigar causas subjacentes e doenças associadas.
E quais são, então, as causas conhecidas?
Temos causas genéticas, causas autoimunes (por exemplo tireoidite de Hashimoto, Lúpus Eritematoso Sistêmico e diabetes mellitus tipo 1), causas iatrogênicas (cirurgias pélvicas); quimioterapia e radioterapia.
Como o diagnóstico de IOP pode ser investigado e confirmado?
O diagnóstico de IOP é baseado na história clínica e pela demonstração de níveis elevados de gonadotrofinas, níveis revistos e estabelecido o diagnóstico de IOP quando FSH > 25 mUI/ mL, em duas dosagens com intervalo superior a 4 semanas, em mulheres abaixo dos 40 anos de idade. Clinicamente, deve ter alteração menstrual tipo oligo/amenorreia, não sendo obrigatório que apresente sintomas de hipoestrogenismo (como, por exemplo, fogachos e ressecamento vaginal)
O que deve ser avaliado no atendimento de uma mulher com IOP?
A avaliação da mulher com IOP requer anamnese e exame físico minuciosos. O histórico pessoal e familiar detalhado pode chamar a atenção para situações associadas a IOP, como doenças autoimunes e causas genéticas. Após excluir a possibilidade de gravidez, as mulheres com ciclos menstruais irregulares (oligomenorreia) ou amenorreia secundária devem ser avaliadas para diagnóstico diferencial com outras alterações menstruais: síndrome dos ovários policísticos, hiperprolactinemia, amenorreia hipotalâmica ou hipofisária (hipogonadotrófica) e doenças tireoidianas.
Que exames são relevantes na investigação da IOP?
Alguns exames têm indicação para confirmação do diagnóstico, enquanto outros são solicitados para investigar a causa da IOP ou para avaliar repercussões do hipoestrogenismo. Dosagens hormonais: FSH (obrigatório, duas dosagens com intervalo de pelo menos 4 semanas com valor > 25 mUI/mL). Para diagnóstico diferencial, os exames abaixo devem ter sua necessidade avaliada de forma individualizada: prolactina, TSH; pesquisa de causas genéticas (sendo mais frequentes nas mulheres com amenorreia primária).
Como é o tratamento?
Os objetivos do tratamento da IOP são reverter os sintomas e reduzir as repercussões do hipoestrogenismo. Embora os sintomas vasomotores (ondas de calor) sejam aparentemente o principal motivo de uso da TH, razões relacionadas à maior morbidade como perda óssea, por exemplo, devem ser orientadas e reforçadas às mulheres. Suporte psicossocial deve ser oferecido às pacientes. Reposição estrogênica é recomendada para manter a saúde óssea e prevenir osteoporose e redução do risco de fraturas. Da mesma forma, o início precoce de terapia de reposição hormonal (TH) e manutenção até a idade habitual da menopausa tem efeito positivo no risco de doença cardiovascular (DCV). A TH tem ainda efeito benéfico na qualidade de vida e na função sexual.
Quais orientações gerais devem fazer parte do atendimento?
Ter estilo de vida saudável, incluindo exercícios físicos, não fumar e manter peso corporal adequado; ingestão adequada de cálcio e vitamina D; avaliação do risco cardiovascular, incluindo aferição da pressão arterial e perfil lipídico; importância da TH, ajustando-se o esquema conforme a resposta clínica e com reavaliação anual.
Como deve ser o acompanhamento de mulheres com IOP?
Não há necessidade de dosagens hormonais periódicas para monitorização do tratamento. Exames para rastreamento de câncer (colo do útero, mama, cólon) devem ser feitos com as mesmas indicações e periodicidade das mulheres sem IOP.
Até quando a TH deve ser mantida?
Recomenda-se que a TH seja mantida até a idade habitual da menopausa, ou seja, por volta dos 50 anos. A continuação do uso deve ser discutida com a mulher, levando-se em consideração suas condições clínicas, presença ou não de sintomas e relação risco-benefício.