Terminou no dia 15 de maio, o 10º. Festival Literário de Araxá – Fliaraxá, que trouxe à pauta impor-tantes temas como preconceito, independência e o papel da literatura como forma de denúncia do status quo da abolição da escravatura, que completou 134 anos, no dia 13 de maio de 2022. Foram mais de 150 atividades, entre on-line e presencial, que tiveram como tema norteador “Abolição, Independência e Literatura”. Destaque para as 26 mesas de debate exibidas de forma virtual, reu-nindo um total de 59 escritores, dentre eles, 36 negros autores e intelectuais fundamentais no con-texto histórico e contemporâneo.
O Fliaraxá deixou um legado de cultura e conhecimento para todos os que compareceram ao evento, seja de forma on-line, ou presencial, para a cidade de Araxá e também para os alunos das escolas públicas que participaram do concurso de redação. Mais de 1 milhão de pessoas acompa-nharam o evento pelas redes sociais e mais de 3 milhões de impressões foram registradas nas redes sociais. Presencialmente, 35 mil pessoas estiveram nos três espaços montados pelo festival em diferentes pontos de Araxá.
Afonso Borges, idealizador e curador do Fliaraxá, que este ano apresentou o tema “Abolição, Inde-pendência e Literatura”, acredita na força do festival e da mensagem que foi apresentada este ano contra o racismo, a violência de gênero e a desigualdade. “Eu acredito no poder e na força do povo negro em toda sua diversidade. Que tudo que a gente viveu aqui se transforme em política. Em política de leitura, em política de igualdade social e racial. Que a questão do racismo possa, em algum ponto dessa curva que a história brasileira fez para contornar a história do povo preto, se encontrar lá na frente com a história brasileira”, comenta Afonso Borges em referência a história oficial ser retratada pelas elites que relegaram o povo negro ao esquecimento.
Tom Farias, curador do festival, no encerramento do evento agradeceu a cidade de Araxá pelo acolhimento e ressaltou as lições deixadas pelo evento. “Mais do que decorar a gente precisa apren-der as lições e eu acho que o Fliaraxá aprendeu uma lição nesses 10 anos ao trazer a diversidade, o diálogo, a diferença com homens e mulheres negros, partilhando de um espaço nobre de discus-são, falando de igual”, finaliza.
Homenageados
Este ano, a patrona do Fliaraxá foi a escritora maranhense Maria Firmina dos Reis, na passagem do bicentenário de nascimento (1822-2022). Ela que é considerada a primeira mulher negra a es-crever um romance contra a escravidão e a subalternização da mulher negra, no contexto da Inde-pendência do Brasil, que também completa 200 anos.
Autora de “Úrsula”, Firmina foi uma mulher a frente do seu tempo e já naquela época trazia à cena questões que ainda hoje estão presentes em nossa sociedade e precisam ser faladas, para só assim serem combatidas.
O escritor homenageado desta edição é o baiano Itamar Vieira Junior, considerado uma das reve-lações da literatura brasileira dos últimos anos, com destaque para seu livro “Torto Arado”, que foi um dos mais vendidos de 2021. Vencedor de vários prêmios literários Vieira Junior se destaca não somente pelo número de livros vendidos, mas pela defesa das diferenças em um país multirracial e pela produção literária que dialoga com questões nacionais e também do continente africano, de onde se originou grande parte da nossa população.
“Sempre que eu falo da escrita do livro, do que me incentivou a escrever [Torto Arado], eu penso que a literatura brasileira foi fundamental para que eu refletisse sobre a história. Nesse sentido eu vejo aproximações entre Torto Arado e Úrsula, principalmente quando a Maria Firmina dá voz a essas personagens, negras, e narra parte da história a partir da perspectiva delas. Essa era uma preocupação que eu tinha, que não fosse a escrita de um narrador distante. Pra mim essa história só faria sentido se fosse contada a partir da perspectiva dessas personagens”, comenta Itamar Vieira Junior sobre seu livro.
Fliaraxá em números
O Festival Literário de Araxá deixa importante legado de leitura e conhecimento a quem de alguma forma se dispôs a conhecer novos autores e abrir a cabeça para outras formas de pensar através da literatura.
Ainda assim, os números do Fliaraxá impressionam pela sua grandiosidade e por provar que não é a matemática pura e simples, mas que por trás dela existem pessoas que valorizam a literatura e tem sede de conhecimento.
Este ano, foram contabilizados os números de pessoas que participaram presencialmente e de forma virtual do evento, através dos canais oficiais do Fliaraxá. Foram oferecidas 155 atividades, entre elas mesas de debate, lançamento de livro, oficinas de Slam, contação de histórias, exposi-ções, atrações musicais, espaço gastronômico, entre outros.
O público presente no evento, somando os três espaços de apresentação – Barreiro, Teatro Muni-cipal Maximiliano Rocha e Parque do Cristo – totalizaram 35 mil pessoas. E para acomodar tanta gente, respeitando os protocolos sanitários de combate a pandemia, foram disponibilizados 1870 m² de área coberta e 65 toneladas de equipamentos e estrutura.
Durante os cinco dias do evento aconteceram 129 atrações presenciais, destaque para os autores que estiveram presentes em Araxá (53), lançamento de livros (42) e atividades infantis (19).
As atrações on-line também contribuíram para a grandiosidade do evento. Foram 26 mesas de debate montadas de forma virtual, com 59 escritores, dentre eles, 61% autores negros.
Destaque para as autoras negras que engrandeceram os debates com seus livros e suas ideias. Conceição Evaristo, uma das escritoras convidadas desta edição, resume a importância de dar às mulheres negras o lugar de fala, que é muitas vezes deixado à margem: “enquanto a nossa voz não for ouvida, não for valorizada, não vamos conseguir uma mudança. Porque há uma diferença muito grande entre falar e ser ouvido”, enfatiza ela.
Como não poderia faltar em um evento literário, foi montada uma grande livraria com 800m2 e 20 mil exemplares à venda.
As transmissões virtuais permitiram que pessoas geograficamente distantes de Araxá pudessem viver um pouco do clima do festival e participar das mesas e debates. Foram exibidas 90 horas e 42 minutos de vídeos durante os cinco dias do evento, sendo que 28 horas foram de transmissão ao vivo e 7 horas e 20 minutos de transmissões inéditas que haviam sido gravadas previamente. Entre as lives, foram exibidas 22 horas da Programação do Sempre Um Papo e 32 horas e 22 minutos do Acervo da Madrugada.
Nas redes sociais, o Fliaraxá alcançou mais de 1 milhão de pessoas (1.036.932) pessoas, que acompanharam o festival através do Facebook, Instagram, Twitter ou Youtube. Essas redes soma-ram 3 milhões de impressões.
Somente no Facebook, o Festival alcançou 18.600 seguidores, 16.182 no Instagram, 1.589 segui-dores no Twitter e 4.690 inscritos no Youtube, que totalizou 2.300 espectadores nos dias do festival.
O site oficial também foi bastante requisitado para quem buscava informações sobre o evento e sua programação. Foram 39.894 visualizações de páginas do dia primeiro de maio até o término da programação, no dia 15.
Para que todas essas atividades acontecessem, foram cerca de 300 profissionais envolvidos, ge-rando empregos diretos e indiretos, além de levar turistas para Araxá e fortalecer a economia local.
Tom Farias, curador do festival, no encerramento do evento agradeceu a cidade de Araxá pelo acolhimento e ressaltou as lições deixadas pelo evento. “Mais do que decorar a gente precisa apren-der as lições e eu acho que o Fli aprendeu uma lição nesses 10 anos ao trazer a diversidade, o diálogo, a diferença com homens e mulheres negros, partilhando de um espaço nobre de discussão, falando de igual”, finaliza Tom.
10º Fliaraxá – Festival Literário de Araxá
Tema: “Abolição, Independência e Literatura”
Formato híbrido – transmissão pelas plataformas do festival Youtube e Facebook – @fliaraxa
Informações: @fliaraxa – www.fliaraxa.com.br